terça-feira, 17 de novembro de 2009

ANOS 80. DÉCADA PERDIDA?


por Rodrigo Lee

Os economistas e outros pseudo-pensadores disseram durante muito tempo que os anos 80 foram a década perdida. Perdida em que sentido?
Na moda a ambigüidade mostrava sua cara, provavelmente impulsionada pela abertura democrática. Não consigo ver tal ambigüidade de maneira negativa excetuando talvez os costumes da mesma. A verdade é que tal movimento expunha peças esportivas de lycra e moletom em cores alegres e divertidas e em outros momentos a moda era ousada e sensual. Estilistas que se destacaram na época são referencias na moda até os dias de hoje e provavelmente serão durante muitas décadas posteriores a que vivemos. Só pra citar alguns: Jean Paul Gaultier, Christian Lacroix, Karl Lagerfeld, Giorgio Armani, além dos orientais Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo que optavam pela simplicidade destoando um pouco de alguns exageros dos ocidentais. ‘Década perdida?’ hahaha
Nos esportes tínhamos os melhores jogadores de futebol do mundo (Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo). Nossa seleção não levou nenhuma copa, apesar de dar espetáculo. No entanto Grêmio e Flamengo foram campeões mundial-interclubes. No vôlei, tanto masculino quanto feminino o Brasil se destacou em mundiais e olimpíadas. No basquete masculino e feminino éramos referencia sul-americana com Oscar, Marcel, Hortência e Paula. No atletismo tínhamos Joaquim Cruz e Zequinha Barbosa. Lá fora outros esportistas brasileiros são lembrados e seguidos pelos atuais como ídolos eternos. ‘Década perdida?’ hahaha
Na música brasileira houve um providencial rompimento com aquela música adulta-deprê e castrativa de medalhões baianos e cariocas. Algumas bandas chegaram metendo o pé na porta falando de amor, sexo, diversão e outras normalidades cotidianas com uma linguagem mais abrangente e nada elitista. A Blitz e o Kid Abelha falavam de amor com leveza. Dr. Silvana, Ultraje a Rigor, Léo Jaime e Eletrodomésticos falavam de sexo com humor. Legião Urbana, Capital Inicial, Titãs e Lobão falavam de política, policia e drogas sem medo de uma falsa auto-indulgência e sem o pretenso “cabecismo” de outrora. Isso tudo era direcionado principalmente para adolescentes que até então tinham que se contentar com as bandas filhas do Clube da Esquina, do Tropicalismo e da Vanguarda Paulista:14 Bis, A Cor do Som e Joelho de Porco respectivamente. Outros nomes fizeram a cabeça da juventude da época como: Gang 90, Barão Vermelho, Ritchie, Lulu Santos, Paralamas do Sucesso, Ira!, Metrô e RPM. Esse último transformou o Brasil em um quintal próprio. Se divertiram de norte a sul em shows concorridos e invariavelmente lotados. O seu segundo disco, ‘Rádio Pirata’ vendeu mais que os até então “inalcansáveis” Roberto Carlos e Xuxa(!). ‘Década perdida?’ hahaha Na música mundial sugiram os reis e príncipes do pop que estão até hoje segurando o cetro devido à falta de criatividade, inventividade e capacidade dos músicos e músicas produzidas à partir da década de 90. Madonna é a rainha do pop até os dias atuais. Não me venham falar de Britney Spears, Christina Aguilera, Jennifer Lopez e Beyoncé. Elas tentaram mas... a única que esboçou tomar a coroa de Madonna foi Britney. Porém, sua falta de estrutura familiar e emocional não permitiram que a loirinha chegasse aos pés de Madonna que, sim, também nunca teve estrutura financeira e nem familiar, mas foi persistente e acreditou em si mesma como ninguém. Michael Jackson pós-Thriller não conseguiu seguir os mesmos passos de Madonna? É verdade, não agüentou o sucesso e olha que ele também tinha muitos problemas familiares. A questão é: porque ela agüentou o tranco e os outros não? Ainda assim, depois de Jackson, Prince e U2 quem mais surgiu nos últimos vinte e cinco anos que possa ter esboçado alguma revolução na musica mundial? Resumindo, não temos hoje um rei do pop vivo, mas rainha, sim. Sexo frágil é??? Muitos do sexo forte sucumbiram ao sucesso, Axl Rose, Sebastian Bach,... Sem dizer os que deram cabo da própria vida: Ian Curtis, Kurt Cobain e Michael Hutchence. Quanta coisa significativa aconteceu em dez anos ou pouco mais. ‘Década perdida?’ hahaha

domingo, 8 de novembro de 2009

RAÍZES DO ROCK N' ROLL - parte 7 (R&B e UK MUSIC)


(publicado no Jornal O Grillo - Unimed) por Rodrigo Lee*
rodrigo_lee@hotmail.com

Esse mês falarei de dois estilos musicais pré Rock n’ Roll, separados pelo Oceano Atlantico: o Rhythm & Blues e a pouco ou quase nada divulgada, porém muito importante e relevante, UK Music.
R&B nada mais é do que a abreviação de Rhythm & Blues, estilo proveniente do Blues com a marcação do ritmo mais acentuada tornando-o mais vibrante e dançante. O R&B se firmou no final dos anos 30 como um ritmo urbano com o impulso das big bands de Duke Ellington e Count Basie. No entanto foi em 1949 que tal ritmo foi nomeado como tal pelo critico e produtor musical Jerry Wexler. Alguns dos maiores nomes do Rhythm & Blues são: Louis Jordan (1908/1975), Elmore James (1918/1963), Willie Dixon (1915/1992), Howlin’ Wolf (1910/1976), Muddy Waters (1915/1983) e Big Joe Turner (1911/1985). E foi exatamente ouvindo Joe Turner que o famoso DJ Alan Freed se empolgou e resolveu rebatizar o R&B. O nome dado por Freed foi... Rock n’ Roll. Muito se fala sobre a não importância musical de um DJ, porém possivelmente se Alan Freed não tivesse se movimentado e trazido o futuro Rock n’ Roll para as grandes massas, hoje em dia esse estilo estivesse limitado a pequenos e restritos guetos. Aos poucos o Rock n’ Roll trilhou seu próprio caminho dando espaço para que o Rhythm & Blues continuasse o seu.
Possivelmente os britânicos tenham tomado (e mantido) o reinado do Rock n’ Roll das mãos dos americanos lá pelos anos 60 quando da Britsh Invasion. No entanto sua habilidade e criatividade musical é conhecida desde o inicio do século passado. É que fragilizada pelas duas guerras mundiais e com a auto-estima em baixa, os ingleses perderam “espaço-artístico-cultural” para os EUA. Poucos são os nomes de destaque mundial dessa época: George Formby (1904/1961), Gracie Fields (1898/1979) e Vera Lynn (1917/...).
A Irlanda também tem seu papel na história do pré-Rock n’ Roll. Seus artistas mais ilustres e venerados com todo aquele fanatismo já conhecido dos irlandeses são: os compositores Harry Lauder (1870/1950) e Victor Herbert (1859/1924), que se mudou para os Estados Unidos onde se projetou com os grandes hits: ‘Ah! Sweet Mistery of Life’, ‘A Kiss in The Dark’ e ‘Indian Summer’. É creditada também a Herbert a autoria de ‘Babes in Toyland’, uma opereta que virou filme do Gordo & Magro.
Até o mês que vem. Long Live Rock n’ Roll!

*Rodrigo Lee é músico e admirador de Rock n’Roll e suas vertentes.