quinta-feira, 24 de outubro de 2013

MONSTERS OF ROCK

       (enfim um festival que fez jus ao nome!)
                                                                                                                                     por Rodrigo Lee*

   Estamos habituados a ir ou ficar sabendo de festivais que se dizem de rock, jazz, sertanejo ou axé, e na programação final os organizadores enfiam por nossas goelas cantores ou bandas que pouco ou nada tem a ver com o estilo. Exemplos existem aos montes: cantores sertanejos no carnaval da Bahia, bandas de pop/rock em rodeios, cantores explicitamente pop em festival de jazz e ainda, cantora de axé em festival de rock! E a desculpa por isso é: não tem desculpa! Os organizadores se esquivam das perguntas. E quando não se desviam dão explicações esdruxulas!
   Mas, vamos aos fatos atuais: o Monsters of Rock aconteceu nos dias 19 e 20 de outubro. Dois dias especificamente de rock ‘n roll. No primeiro dia bandas relativamente novas do subgênero new metal se apresentaram e fizeram a alegria do publico mais novo - Slipknot, Korn, Limp Bizkit, Hatebreed e Gojira. Não fui nesse dia, mas o que ouvi a respeito foi a superioridade de Slipknot e Korn, que sem dúvida estão um degrau acima das demais.
   Eu fui no domingo, dia 20, e presenciei a boa abertura com os brasileiros do Dr. Sin, indiscutivelmente a melhor banda de hard rock do país e que desde sua formação inicial peca pelo fato de não ter um bom vocalista. O baixista Andria Busic desempenha a função com boa vontade, mas falta...
   Na sequencia vieram os americanos do Dokken, que confesso estava entre as atrações mais aguardadas por mim; porém o que vi e ouvi foi uma banda quase desentrosada com o cantor Don Dokken sendo incapaz de alcançar as notas mais primárias de suas próprias músicas. Boas músicas e irregular desempenho.
   Em seguida veio o Queensryche. Ou o que sobrou dele. No palco apenas o vocalista Geoff Tate. Está rolando uma briga pelo nome: Tate de um lado e os outros três remanescentes, de outro. Os dois lados estão usando o nome Queensryche e em breve os advogados chegarão a um veredicto sobre quem pode usar a consagrada nomenclatura. Em relação ao show, Geoff Tate com sua banda entregou um show de muito bom gosto e qualidade, como sempre. A mistura de heavy metal com elementos do progressivo dão ao Queensryche o possível título de criador do, hoje, duvidoso metal melódico!
   Minutos se passaram até que surge no palco o errante Buckcherry, uma (boa) mistura de Guns n’ Roses com new metal. E nada mais a acrescentar. O tempo dirá se eles sobreviverão. Tomara que sim!
   Um das mais aguardadas bandas do festival, o Ratt veio ao Brasil com Carlos Cavazo (ex-Quiet Riot) na segunda guitarra, substituindo o falecido Robbin Crosby. A apresentação foi direta e carregada de maneirismos do hard rock da década de 1980. O vocalista Stephen Pearcy nunca foi e nunca será um grande cantor, mas exala simpatia, o guitarrista Warren de Martini, cogitado pra banda de Ozzy, é um músico razoável e desempenha bem sua função. No fim das contas foi uma apresentação divertida.
   Pra quem realmente gosta de rock n’ roll, blues e hard bem feito, a verdadeira atração principal da noite era o Whitesnake. Capitaneado por David Coverdale o sexteto deu uma aula. Indiscutivelmente, a melhor banda do Monsters of Rock de 2013! Falar de Coverdale é fácil: um dos maiores cantores e performers de todos os tempos! Ele sempre primou por montar um grande time pra acompanha-lo e o atual, conta já há algum tempo, com os dois guitar-heroes Reb Beach e Doug Aldrich. Nos outros instrumentos a troca é uma constante; prova disso é a presença no Brasil do ‘atual ex’ baterista Tommy Aldridge. A tônica dos shows é a mistura dos hard-blues com baladas que arrebatam a todos. Melhor espetáculo da noite!
   Uma pausa maior do que as outras e surge na passarela, exclusiva pra atração final da noite, Steven Tyler e Joe Perry. Pra quem há meses atrás estava a ponto de encerrar as atividades o Aerosmith fez razoavelmente bem a sua parte como alarmada ‘atração mestra’ da noite. Aliás, o que os salva é um vasto e bom repertório comercial, que permeia as últimas, quase, cinco décadas. O baixista Tom Hamilton, tratando de um câncer, nem veio ao país, Joey Kramer sempre foi um baterista pífio, e com o tempo piorou. O segundo guitarrista Brad Whitford é mediano. Teoricamente sobraria para o dono da bola, Joe Perry, dar seu show. E o que se ouviu foi um guitarrista errando solos e riffs primários, criados pelo próprio! Parece que enfim os anos de abuso de substâncias duvidosas se manifestou na vida do cara, que quando surgiu era o novo Keith Richards e influenciou, muito, entre outros, o guitarrista Slash. Mas o que poderia ser uma apresentação média foi salva pelo show-man Steven Tyler. Vestido, adornado e pintado como mulher o cara esbanja carisma, presença, energia e potência vocal suficiente pra quase anular o restante da banda. Esperemos que o quarteto de músicos se recupere tecnicamente ou estarão fadados a ser a banda que acompanha um grande cantor e performer. O saldo final foi excelente.
Pra quem gosta de festivais com brasilidades e afins, aqui não é seu lugar! O Monsters of Rock sempre foi um festival de um estilo anglo-americano eterno, o Rock n’ Roll!

                                       

        *Rodrigo Lee é músico e produtor cultural.