sábado, 5 de março de 2011

MÚSICA PRA DANÇAR

Carnaval chegou e o Brasil se divide entre quem gosta de marchinhas e quem gosta de axé music, como se essa separação fosse realmente necessária.

Deixo claro que não sou admirador de nem uma. Meu gosto musical passa longe disso. Quero apenas fazer um parâmetro entre os estilos.

Qual é a profundidade das letras de marchas tradicionais como Mamãe eu quero, Cabeleira do Zezé, Tahí, e Mulata? Certamente nem uma profundidade ou conteúdo! São letras infantilóides e maliciosas ao mesmo tempo. Musicalmente então, nem se fala. São acordes repetitivos e fáceis de tocar. Mas a intenção das marchinhas é a de dançar; e em defesa de uma ‘tradição da tradição’ as marchinhas são idolatradas. O ritmo axé também tem a intenção de fazer as pessoas ‘tirar os pés do chão’, sinônimo nos tempos atuais de dançar. As letras do axé não são é claro, um primor, mas tem, sim, mais conteúdo e fazem mais sentido nos tempos atuais do que as marchinhas. E musicalmente são infinitamente melhores do que as marchas. O exemplo disso são músicas de artistas como Daniela Mercury, Netinho, Ivete Sangalo e Claudia Leite. Aí eu chego à questão: porque os amantes das marchinhas têm preconceito com o axé e os amantes do axé, apesar de não ouvirem ou pular carnaval ao som de, não demonstram preconceito em relação às marchas??? Tradição ou preguiça mental de tentar entender, assimilar ou se adaptar aos novos tempos? Porque só as músicas, filmes, novelas e outros produtos culturais criados há décadas são melhores que os atuais? Pensar assim é no mínimo ignorar, desconsiderar e negligenciar os tempos em que nossos filhos vivem ou viverão. Porque não conhecer o novo tentando no mínimo encontrar nele as influências e qualidades do velho? Nesse carnaval, pense sobre isso quando for a bailes carnavalescos, onde a prioridade são as marchas, e/ou quando estiver ‘perseguindo’ o trio elétrico, onde o que manda é o axé. Muitas vezes precisamos apenas, literalmente, dançar a música sem nos preocupar em prestar atenção no que a letra está falando. Possivelmente se isso acontecer atrapalhará a dança!

Apenas dance, brinque e se alegre nesses quatro chamados dias em que esquecemos de tudo e nos divertimos! Depois disso a vida continua. Ou o ano começa!!!

*Rodrigo Lee é músico e produtor cultural

3 comentários:

Unknown disse...

Saudações. Bom, a princípio seu texto supõe mais uma opinião do que argumentos... E opiniões são sempre muito frágeis. A começar por aquilo que alega não ser sua preferência musical e apresentar "falta de conteúdo ou profundidade" ou mesmo não ser nenhum "primor". Isso segundo seus critérios que, no mínimo, são suspeitos, já que denotam um afastamento opcional por uma questão de gosto. Afinal, dizer que "meu gosto musical PASSA LONGE DISSO" ou “musicalmente, então, nem se fala” denuncia sua perspectiva. E como nenhum discurso é neutro, o seu, por sua vez, tende a ser preconceituoso. Diria até que há nele uma pseudo-generosidade com estilos musicais carnavalescos. Primeiro você os deprecia, depois aconselha a apreciá-los sem dar muita atenção às letras. Ora, o que é isso? Argumentativamente falando, conhecemos como contradição. Relevemos... talvez por que, no seu caso, trata-se apenas de opinião, não? E são tão inconsistentes suas palavras que qualquer pessoa com um mínimo de feeling para dança sabe que bailar é um processo de síntese e extração daquilo que brota entre o que provoca a levada (ritmo) e o que sugere a letra. A menos que você se refira a um público consideravelmente alienado. Seria este o caso? Pelo menos é o que suas palavras dão a entender. Quem sabe você não pense também que o mesmo ocorra com quem compõe axés e marchinhas? Ignorar que alguém supõe ser desta ou daquela orientação sexual certa pessoa (Zezé) baseando-se nos comprimentos dos cabelos, é sim, como você diz, maliciosamente infantil. E na condição de seres providos de intelecto potencialmente interpretativo creio que há duas possibilidades: Contestar ou consentir. Ignorar? Pouco provável. Quanto a sua humilde intenção de "apenas fazer um parâmetro", ingenuidade sua. Desde quando cultura é, como muitos desejam (você também?), graficamente ou matematicamente medida? Você saberia dizer qual rock n' roll é qualitativamente superior ao outro entre os ingleses e norte-americanos? Se até sua linguagem é diferente para atender às necessidades especificamente regionais e étnicas. Não seria diferente num país tão imenso como o Brasil. Salve a diferença! Enquadrar a cultura em padrões (parâmetros) é empobrecê-la. Ainda mais quando se trata de referências pessoais. Cultura supõe "contemplação" e atitude de sorver. Franz Kafka não soube dizer ou você não entendeu direito? Sinto dizer, mas sua pretensão de estabelecer um parâmetro é tão medíocre quanto sua opinião. Quer dizer que "Samba de uma nota só" poderia ser considerada "infinitamente" pior que outros sambas segundo uma análise melódica e não harmônica? "Acordes repetitivos e fáceis de tocar"? Você que é músico deveria conhecer a famosa e corrente expressão entre os músicos: "variações sobre um mesmo tema". "E se bastassem três acordes?" Não é o que diz a propaganda do canal Cultura a título de provocação? E não seria diferente ouvir a expressão "ilha do amor, Madagascar" da boca de um quilombola do que de foliões que festejam o carnaval na casa de praia do amigo filho de gente abastada? Numa próxima vez, tente não fomentar tanto o preconceito sob quaisquer critérios e formas. Afinal, são esses “os tempos em que nossos filhos vivem ou viverão”.
Atenciosamente,
José Rovilson Júnior

Rodrigo Lee disse...

Ah, que legal sua argumentação. Fiquei feliz com sua opinião. Cultura nao se compara? Porque então os três acordes do punk ou alguns a mais do rock são tão questionados pelos amantes das finadas bossa nova e mpb? Bom, não quero entrar no mérito de nossas opiniões opostas nem diria que sua opinião é mediocre, inconsistente, ingenua e frágil como você disse a respeito de meus comentários. Eu respeito o seu assim como respeitaria o de qualquer outra pessoa. Eu agradeço por voce ter participado do blog. Hora dessas, se quiser, conversaremos pessoalmente e amigavelmente. Caso queira entrar em contato para me pagar um café, meu e-mail consta nas publicações que escrevo (Brand News, La Creme, Mantiqueira, Jornal da Segunda, Poeira Zine (SP), etc.) Ah, na minha 'frágil opinião' o rock inglês é melhor que o americano. Apesar de duas de minhas bandas preferidas serem americanas: Van Halen e Journey. Mas essa é apenas a minha opinião, não entra em questão aí o meu gosto pessoal. Porque se entrasse, eu nunca faria nem uma crítica ligada à 'nossa' colonizada sub música brasileira.
Um abraço.

Pablo Andery disse...

Olá. Em primeiro lugar, até onde sei, blogs são páginas na internet em que podemos postar textos da maneira como quisermos nos expressar; sejam por opiniões pessoais ou por conceitos unânimes. Em segundo lugar, o fato de uma pessoa qualquer não gostar de um determinado estilo musical não significa que ela não possa escrever ou falar a respeito do que pensa sobre esse estilo de música. A contradição é uma eterna característica da música em si. Por exemplo: posso gostar de ouvir rock'n'roll, mas não gostar de uma determinada banda que só toca rock'n'roll. O que acontece é que não temos poder suficiente para alterar o gosto musical de outra pessoa simplesmente porque não gostamos do tipo de música que ela gosta. E por último, em um texto que fala sobre músicas de carnaval, o autor não precisa ser neutro quanto à sua opinião em relação às músicas carnavalescas, até porque o texto é dele. Abraços.